sexta-feira, 19 de abril de 2013

Co sleeping

Se amor é partilha, cá em casa partilhamos também a cama. Ressalvo que este blog não pretende ser o resumo da verdade, não sou fundamentalista e aqui partilho a nossa vida, as nossas experiências, partilho aquilo que é a nossa medida certa. O que nos serve e encaixa.
Há prós, há contras. Mas dormir com o nosso ou nossos filhos ali ao nosso lado não tem preço. Sentir-lhes o cheiro, juntar os meus lábios à pele suave deles e ali ficar, colá-los ao meu corpo e sentir-lhes a respiração profunda do sono. Para mim é das melhores coisas.

Os meus filhos estão no quarto deles desde os 5 meses e adormecem sempre sozinhos na cama deles, cada um na sua, quase sempre sem grandes manobras. Deitamo-los e eles acabam por adormecer, solicitando mais ou menos atenção. Quando estão doentes dormem sempre connosco, adormecem na caminha deles, mas quando nos vamos deitar eles vão para a cama dos papás. E noutras noites em que não estão doentes, mas que são igualmente complicadas quando sinto que é essa a solução, caminhamos alegremente para o quarto dos papás e lá ficamos ora os 3, ora os 4. Se o meu filho precisa de mim naquela hora, naquela noite não lhe vou negar nem presença, nem uma noite descansada. É verdade que o co sleeping também facilita a vida aos pais, é prático e quase sempre a certeza de uma noite calma.
Quantos de vos não gosta de dormir com quem ama? Tem preço? Se um bebé depende de mim, que só conhece este mundo há 8 meses, quer ficar perto, não o manterei perto? Se o mundo me causa estranheza quase 27 anos depois não causará a dois seres que ainda são totalmente dependentes?
E se soubesse o que sei hoje nos primeiros meses teria sido praticante acérrima, teriam dormido ali a meu lado, a nosso lado, adoptando um co sleeper. Coladinhos e felizes.
Há perigos associados como o perigo de sufocação. A menos que a mãe esteja sob o efeito de medicação forte ou alcoolizada, não acredito que a sufocação acontecesse. Aliás há estudos que revelam que as mães ficam são altamente sensíveis e reagem aos movimentos dos filhos enquanto partilham a cama. Associa-se também o co sleeping ao aumento do SMSL (Síndrome de morte súbita do lactente), ao contrário há estudos que mostram evidências de que o co sleeping previne o SMSL porque o bebé não entra em estados de sono muito profundos e sincroniza a respiração com a da mãe, fazendo com que não se “esqueça” de respirar.
Esta partilha facilita a amamentação e aumenta os níveis de prolactina.
Há ainda quem defenda que os bebés que dormem com os pais tornar-se-ão crianças e adultos mais dependentes. Ontem ouvi um psicólogo dizer aos pais que se não queriam filhos com medos (medo de andar de avião, medo de elevadores) que não deveriam praticar o co sleeping. Para além de outros estudos defenderem exactamente o contrário, sei que não somos só produtos de uma só coisa. Não se criam filhos dependentes e receosos do mundo só porque dormem com os pais, do mesmo modo que a receita para ter filhos independentes e sem medos não passa por não deitá-los na cama dos pais. Aliás, apesar de ter dormido até tarde no quarto dos meus pais, nunca tive o hábito de ir para a cama deles e ainda assim tenho medos. Ter medos e um certo nível de dependência, principalmente na infância, é normal, faz parte de nós. Mais importante que criar filhos sem medos, é ensiná-los e ajudá-los a superá-los!
Por aqui gostamos de dormir juntos, dormiremos juntos mesmo que o corpo nos doa e a célebre frase “habitua-os que logo vês” a nós não nos convence. E sim, possivelmente precisamos de uma cama maior. 

http://www.attachmentparenting.org/support/articles/artbenefitscosleep.php

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Um ano depois da descoberta

Escrito a 14 de Fevereiro de 2013

"E fez ontem um ano que soube que eram dois os bebés que carregava na barriga. Quando vi por trás do primeiro bebé outro par de perninhas a mexer freneticamente confirmei aquilo que o meu coração já sabia: são dois. Então a médica disse: “Temos aqui outro” e eu feliz chorei. Não dá para explicar o que é ser mãe de gémeos, é mais do que se possa imaginar, é a medida certa para uma vontade desmesurada de ser mãe, é saber que teremos o coração, a casa e a vida cheios para sempre. São gémeos, poderia ser hoje o título da minha vida.
Sempre que dizia que estava grávida de gémeos o povo tecia uma série de argumentos, vomitavam opiniões sobre quão tenebrosa iria ser a minha vida. “Dois?”, “Ai dois, tu não sabes o que te espera”. Gritavam desesperados, afligiam-se com a minha pouca sorte. Diziam “Engraçado, sem ter graça nenhuma”. E quando dizia que gostaria de voltar a ser mãe, a mesma frase era projectada com a mesma convicção pelas mais variadas pessoas: “Deixa-os nascer que logo vês se queres mais”.
Garantidamente hoje digo com toda a calma, perseverança e felicidade: foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Leituras de sina assustadoras à parte, digo a todas as pessoas que julgam e julgaram saber o que é ter gémeos: tem sido uma aventura deliciosamente fantástica. Com todo o trabalho, tempo e paciência que envolve ter dois bebés numa casa, afirmo com toda a certeza que a experiência não foi, nem será assustadora ou má. Tem sido maravilhosa. Bebés dão trabalho, choram, têm fome, fazem chichi e cocó na fralda, choram, acordam de noite para comer, têm dores, choram, comem, choram, comem, exigem de nós mais do que qualquer pesssoa, fazem birras, comem, fazem cocó, gritam, palram, sujam roupa e mais roupa. A vida muda, é outra vida. Mas afinal não temos que estar conscientes da exigência de um desafio quando o aceitamos?
Volvidos 6 meses, digo novamente. Sim, gostava de voltar a ser mãe e sim dava tudo para que fossem gémeos. Não, não estou ”despachada”."

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Desde há muito


Lembro-me de uma vez olhar para os bebés e ao vê-los olhar um para o outro ter a certeza que já se conheciam há muito. Mas não era só se conhecerem, eram cúmplices. Teriam uns 3 meses, começavam a ter mais noção do mundo e dos outros, mas aquele olhar era de quem já se conhecia há mais de 3 meses. A ligação era anterior e muito mais forte do que eu poderia imaginar. Naquele momento parei a olhá-los, a absorver aquele momento e a gravá-lo na minha memória.
A ligação entre irmãos é sempre especial, mas a ligação entre gémeos, é a meu ver mais profunda ainda. Quando tentava interpretar aquele olhar lembrei-me de quando a obstetra numa das ecografia me explicou que, apesar de estarem em bolsas diferentes, possivelmente se conseguiam ver um ao outro. Sim, eles já se tinha olhado durante muito tempo, já se sentiam e conheciam desde a luta por espaço na minha barriga.
Posteriormente a isto, numa consulta com o Pediatra perguntei o que podia esperar no desenvolvimento da fala nos meus filhos. Não sou daquelas mães que compete pelas proezas dos filhos, “o meu andou aos 8 meses”, “O meu com esta idade já gatinha”, “o meu já tem dentes”, “o meu com 9 meses já diz o abecedário”. Ok! Acreditem, comecei a andar com 8 meses e isso não me abriu portas nenhumas, mais importante que estimulá-los para que “cumpram” cada uma das fases, é respeitar o tempo e desenvolvimento de cada um. Fiz a pergunta porque segundo outras mães de gémeos e  segundo algumas coisa que li é comum que os gémeos falem e andem mais tarde que os outros bebés, e atenção não é uma predestinação.
 Isto acontece essencialmente por duas razões tempo, o tempo que temos é repartido por dois e por uma questão de foco, muitas vezes a atenção é dividida, os pais não se fixam só num bebé, olhando nos olhos e falando, focando-se num de cada vez. Mas na questão da fala há outra questão que o Pediatra me explicou, o entendimento entre eles é muito maior do que aquilo que percepcionamos e muito maior do que o entendimento que têm connosco, então neste caso é uma questão de necessidade ou falta dela. Se eles se entendem entre eles melhor do que nós imaginamos, não têm tanta necessidade de comunicar connosco pais e com o resto do mundo. Afinal têm que os perceba, funcionam quase como muleta um do outro. Não é maravilhoso? E eles com 8 meses palram um com um outro, riem um com o outro, riem um do outro. E conhecem-se tão bem! 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

8 meses dia 8


E faz hoje 8 meses que abracei os dois melhores projectos da minha vida.
A vida mudou, é outra vida. Ter duas vidas que dependem de nós é algo inexplicável, absurdamente absorvente e encantador. Aqueles seres que tivemos a capacidade de gerar precisam de nós todos os minutos, requerem e exigem de nós aquilo que nós não sabíamos que tínhamos para dar. Ser mãe é um processo de descoberta de nós mesmos. Para além de tudo o resto é muito isto: (re)descobrir-nos, superarmo-nos. Sempre quis ser mãe, mas só quando somos mães é que temos a perfeita e clara noção do que é ser mãe. É um compromisso galáctico, uma ligação feita de vida, visceral. E é um amor desmedido, todos os amores são diferentes, amamos mais e melhor, amamos diferente, depende das relações, depende das pessoas, difere consoante a fase da vida, mas este amor pelos filhos entranha-se. Ter filhos é viver fora do nosso corpo, este amor vem do mais profundo de nós. Só quando temos filhos é que percebemos o amor que as nossas mães têm por nós, antes disso apenas temos uma noção, depois percebemos.
É outra vida, as prioridades mudam, mudam vontades, não é algo programado, ninguém acorda e pensa: “Bem, agora que sou mãe vou mudar”. Não, é natural, faz parte. Quase sem darmos por isso, moldamo-nos a esta nova vida, dançamos harmoniosamente (às vezes nem tanto) entre chuchas e fraldas, encaixamo-nos. Vamos sendo felizes, oscilando entre incertezas e amor, desespero e apego. A vida muda muito, desconhece-se o que se avizinha, o que antes era de certeza, depois passa a “logo se vê”.

São 8 meses desta nova vida e que 8 meses. Intensos e maravilhosos. 


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mãe


Mãe 2


Perguntam-me várias vezes como foi quando descobri que não esperava um bebé, mas sim dois bebés. Foi na primeira ecografia que tivemos a certeza que a bênção tinha sido a dobrar, mas foi antes disso que eu soube que eram duas vidas que gerava. Não sei explicar porquê, nem sei explicar melhor do que isto. Sabia. Sabia que eram dois. Gémeos, que palavra tão bonita.
Claro que o momento da confirmação foi estonteante, magnífico, mas não foi uma surpresa, não. Essa hipótese, a hipótese de ser a dobrar já estava sob a mesa, aliás costumo dizer que se não fossem dois, tinha sido muito difícil lidar com isso. Mas não, o meu coração de mãe cereja não me enganou, eram dois. Gémeos. Não houve, por isto, o choque que as pessoas esperam que tivesse acontecido, o momento da ecografia foi a confirmação daquilo que o meu coração de mãe já sabia, já estava preparada.
É maravilhoso saber que estamos a gerar vida dentro de nós e mais fantástico ainda é saber que estamos a gerar duas vidas. Nunca tive medo, tive questões, ainda as tenho, mas não entrei em pânico. Se a vida meu deu dois filhos de uma só vez é porque consigo dar conta do recado.